quinta-feira, 12 de junho de 2008

Carta II (MMV)

Sinto a tua falta, d.
Refugio-me em ti quando me sinto vazia, porque és o meu sonho mais bonito, porque em ti adormeço e renasço, porque em ti me senti viva....
A vida é breve demais para perdê-la e perco-a todos os dias um bocadinho, como te perdia um bocadinho todos os dias que passamos juntos..
E nunca mais é tempo demais d. ... o teu silêncio voltou a sufocar-me.. perco-me em mim e não me encontro.. sento-me no chão do quarto onde nunca estiveste e relembro o verão que nunca passamos juntos e as histórias que imaginavas para nós, passeios e viagens que nunca fizemos.. o tempo foge-nos, d., fugiu-nos, perdi-me, perdi-te, dois anos e meio passaram tão depressa.. nunca mais te vi.. ainda bem, penso eu, se te visse acho que morreria outra vez.
Fomos embora cedo demais.. não tivemos tempo de dizer adeus um ao outro.. não me deixaste despedir de ti, porque dizias voltar.. talvez porque ainda voltes.. talvez um dia ainda nos encontremos para dizer adeus um ao outro..
Esta noite voltei a sonhar contigo e a acordar sufocada e triste.. não estás aqui.. nunca mais estarás..
“Quantas coisas perdemos com medo de as perder..”- disseram-me um dia.. a ti, d., perdi com o pânico de te perder.. é sempre o medo que nos atraiçoa, que nos devolve a solidão.. e a solidão só me devolve sonhos que se tornam pesadelos. Nunca mais quero sonhar contigo porque viajo para um tempo que já não existe, porque me perco e é tão difícil voltar a encontrar-me de novo. Todos os dias te esqueço e construo um bocadinho de mim sem ti.. e de noite os sonhos trazem-te de volta, numa irrealidade cruel.
Escrevo-te tudo o que nunca te disse, não sei porquê, não sei porque não te dizia, não tinha tempo talvez, consumíamos os segundos que estavamos juntos.. porque o tempo voa, nunca fizemos tantas coisas que combinamos juntos, porque o tempo era todo devorado apenas para estarmos ao pé um do outro.. dedicávamos o tempo livre para ficarmos só os dois.. talvez porque adivinhávamos que tudo seria efémero, que em tão pouco tempo nos beijávamos pela última vez à porta da tua casa, para nunca mais nos voltarmos a ver... fiquei para sempre com o sabor salgado dos teus lábios cheios de lágrimas... e tu?

1 comentário:

disse...

Estou abismada... sem palavras até..
Percebo cada palavra que dizes e queria deixar aqui um comentario majestoso, porque estes textos tem que ser devidamente respeitados, mas nem consigo...
deixo apenas aqui um sorriso de compreensão, aqueles ternos que significam tantas palavras!

Smile:)!