sábado, 12 de julho de 2008

[Prophecy]

Percorro o teu corpo, enquanto dormes.
No silêncio meigo da Noite.
Invado-o na cumplicidade do teu sono.
Diluo a minha mão na tua pele.
Um mapa que conhecerei de cor.
Com os dedos, desenho o nosso caminho de retorno.
Com os lábios, escrevo o meu nome no teu corpo, escondido, onde nunca o verás.
Olho-te, submerso no sonho, quase ausente, encolhido no algodão protector do lençol e da almofada, que abraças como se fosse o meu corpo.
Enveneno-te com os lábios e saliva, com sabor a maçã e o doce sabor da esperança no sossego da ousadia.
Dormes.
Como um Anjo.
O Meu Anjo.
Beijo-te o rosto como asas de borboleta numa flor.
Mexes-te milimetricamente. Quase um sorriso.
A tua mão procura-me como num deserto. Encontras-me. Sempre.
Enveneno o teu corpo com o meu perfume.
Enveneno-te com o meu amor. Um perfume doce e intenso. [Fatal].
Diluo o veneno na tua pele, embebedando o teu corpo, delicadamente, como uma Profecia, a pele, os ossos e a Alma.
Escrevo na palma da tua mão o segredo do Antídoto, que nunca lerás, e sei então que és meu para sempre.

domingo, 6 de julho de 2008

Réplicas.

Sufoco. Angústia. Renúncia. Negro. O vestido de seda e veludo. Negro. O eterno retorno. O erro. Um anjo. A morte. O amor. A dúvida. E a única certeza. As asas que rastejam. Um dia de cada vez. As mangas apertadas. O punho fechado. O fim. A minha mão. E a tua. O poder. A música. O negro. Sensação de euforia. Poder. E infinito. Somos os dois no limite do mundo. Estarei lá mesmo que não me sigas. Estarei mesmo que não caminhes lado a lado comigo. Na mesma direcção. Sou a Rainha da arrogância. A Imperatriz de gelo. Sob o vestido negro de seda. Ódio. Preponderância. E o amor violento das guerreiras da morte. Essa lua poderosa e mágica, fatal e ignóbil. Sou a Imperatriz da morte. A Medusa de cabelos escuros, serpentes implacáveis e repletas de veneno.

(Sem Título 0.1)

Fala-me hoje. No meio da multidão. Nesse teu modo invisível de fingir que estamos sozinhos. No meio da multidão. Que nos observa. Que não nos vê. Que nos sorri. Porque somos um prolongamento dessa multidão. Ali estamos nós, no abismo da multidão, os dois. Indiferentes ao movimento e ao barulho. Animados com conversas banais. Animados no conforto da superficialidade. Tentando encenar um ao outro as personagens que somos fora dali. Da multidão. Não sorris. Intencionalmente. É a tua forma de não fugir dali. De ficar. Já mo disseste. Lembras-te? Finges não me ver porque sabes que te vou procurar se não vieres. Olhas para mim com uma expressão de espanto ou de indiferença como se não me tivesses visto ainda. Finjo que acredito e não sei de nada. Fico ali, junto a ti. Perdemo-nos com conversas banais, denunciando, em códigos, o que aconteceu nos dias em que não estivemos juntos. Ficaria ali, o dia inteiro contigo. Entre conversas banais.

terça-feira, 1 de julho de 2008

[Imaginary sin]

A sensação do corpo embalado por tecido de seda e veludo invadia-a, num ritmo de ondas do mar num dia de tempestade. O mar salgado dentro do próprio corpo, diluído na pele como se ela fosse uma ostra que só respira debaixo de água. Os cabelos a cairem sobre as costas nuas, como algas escuras a serpentear, no êxtase do momento, qual Medusa. Serpenteavam no limite da sensatez. O corpo dele deitado no chão, um prolongamento que a unia e afastava da Terra. As paredes vigiavam-nos no pecado imaginário da luxúria.