domingo, 23 de março de 2008

Desenhos de memórias

Deitado, olhava para o tecto do quarto, branco, três estrelas fluorescentes numa das paredes, um estirador branco com folhas desenhadas com tinta da china, em cima, uma mesa com um computador desligado, um armário com a porta semi-aberta, uma prateleira com cds. No chão, a um canto, uma manta cor-de-laranja e 3 ou 4 almofadas coloridas, uns chinelos pretos e as botas que ela tinha calçado. Na cadeira, um casaco preto, uma t-shirt cor-de-rosa (há muito tempo que não a via vestida de cor-de-rosa, talvez desde criança). Uma estante cheia de livros, cujos títulos não conseguia ler com a escassa luz do quarto, um cheiro doce de perfume - o perfume dela, que ele absorvia e se entrelaçava em milhares de fios dentro de si.

(...)

"Imagina... estamos deitados na relva, à noite, numa floresta, com árvores muito altas à nossa volta, uma noite quente e a relva e as árvores protegiam-nos. Lá ao fundo, um lago, uma coruja a olhar para nós, a ver-nos, a guardar-nos, toda branca e com manchas cinzentas, de olhos amarelos. "

"Olha para nós porquê?"

"Olha para ti, porque és bonito. Tem um olho fechado e outro aberto."

"Sou bonito?"

"Muito."

1 comentário:

Anna Molly disse...

humm...
Fico completamente envolvida no que escreves.
Gostei da descrição do quarto, mas principalmente o pormenor da t-shirt rosa e do perfume. Por segundos parecia que eles estavam ali, mesmo á minha frente!
Oh NÃO!!! Sou uma Voyer! HAha..
Baci