segunda-feira, 24 de março de 2008

Os pés. Nus. No chão.

Os pés nus no chao. O espelho. No espelho, o reflexo dela. Ela estava nua em frente ao espelho, com os olhos imóveis e abertos, indiferentes, atentos, mortos ou ausentes. Os braços caídos ao longo do corpo, das curvas e dos recortes dos ossos. A pele muito clara, pálida. Entre as pernas, um fio de sangue vermelho vivo escorria a um ritmo sarcástico e demorado, contornando o traço magro e feminino do joelho e do tornozelo até ao pé nu. Serpenteando desenhos quase perfeitos, carmim, na brancura marmoreada da pele. Ele apareceu atrás dela e abraçou-a como se fosse sua, como se ela fosse de alguém, como se ela fosse Só sua. Apertou-a com força, marcando o próprio corpo no dela, pouco ausente do vazio que gritava dentro dela. Apertava-a para o calar. Apertava-a para a deixar respirar. Com as mãos no corpo dela como portas fechadas. (E) Os pés nus no chão.

1 comentário:

Anna Molly disse...

Este texto deixou-me com uma lágrima a querer saltar cá para fora!
Que saudades de ser abraçada como se pertencesse a alguém...por momentos senti o abraço que descreveste!!

O poder das palavras!

baCi